Compradores B2B já decidiram o fornecedor antes mesmo de iniciar o processo de compra

Imagine entrar em uma corrida sabendo que 90% dos competidores já largaram bem à frente de você. Não por correrem mais rápido. Mas porque chegaram antes. No B2B, essa é a realidade nua e crua para quem ainda acredita que a decisão de compra começa com o RFP.

Spoiler: ela começa muito antes.

A corrida silenciosa da pré-decisão

Segundo a Bain & Company, entre 80% e 90% dos compradores B2B já possuem uma lista de fornecedores em mente antes mesmo de iniciarem oficialmente sua jornada de compra. O Google confirma: 86% dos tomadores de decisão B2B já têm marcas pré-selecionadas no momento em que começam a pesquisar soluções​.

Esse comportamento não é apenas um detalhe técnico — é um divisor de águas. Significa que o jogo do B2B não é só sobre persuadir. É, antes de tudo, sobre ser considerado.

E se sua marca não está nessa pré-lista? Você nem entrou na conversa.

Como essas listas invisíveis são formadas?

A resposta é menos misteriosa do que parece: reputação, autoridade percebida, conteúdo relevante, indicações e — pasme — presença digital. Em um mercado onde os decisores raramente compram sozinhos (em média, entre 5 e 11 stakeholders estão envolvidos na decisão B2B), marcas confiáveis funcionam como um consenso silencioso dentro das empresas.

A confiança aqui pesa mais do que preço. Dados do Google mostram que 31% dos compradores B2B priorizam a confiança na marca na hora da escolha​.

Não é sobre ser o mais barato. É sobre ser o menos arriscado.

Branding é o novo vendedor

Durante muito tempo, marketing B2B foi sinônimo de geração de leads. O famoso “passa o bastão para vendas e seja feliz”. Mas nesse novo cenário, leads frios não resolvem nada se sua marca não inspira confiança à primeira olhada.

E confiança, no mundo B2B, não se constrói em um PDF de proposta. Ela nasce da soma de pontos de contato bem executados: um whitepaper relevante, um case bem estruturado, um vídeo explicativo, uma menção num podcast, um LinkedIn ativo, uma recomendação espontânea no grupo de WhatsApp da ABM.

Branding, no B2B, não é cosmético — é tática de sobrevivência.

O efeito multiplicador do digital

Agora, some à equação a autonomia do comprador moderno. Antes de falar com qualquer vendedor, o comprador B2B já vasculhou sites, viu vídeos, comparou soluções e perguntou aos pares.

Mais do que isso: 93% dizem que o vídeo é importante para construir confiança na marca e 62% afirmam que anúncios em vídeo aceleram decisões de compra​.

Isso explica por que empresas que alocam mais da metade do orçamento de branding no digital têm, em média, um retorno 25% maior​.

É a diferença entre ser lembrado com familiaridade ou percebido como mais um e-mail genérico na caixa de entrada.

O paradoxo da influência no B2B

Enquanto no B2C os influenciadores brilham com lifestyle e unboxing, no B2B, os influenciadores são profissionais confiáveis: aquele consultor respeitado, o professor da pós, o colega que já contratou e deu certo.

Ou seja, influenciar no B2B exige muito mais do que buzz. Exige autoridade. E tempo.

O que fazer para entrar na “pré-lista”?

A resposta passa por uma tríade poderosa:

  1. Branding estratégico: Posicionamento claro, promessa coerente, consistência visual e verbal.
  2. Presença digital ativa: SEO, redes sociais, conteúdo útil, depoimentos, PR inteligente.
  3. Relacionamento de verdade: conexões humanas, comunidades, troca de valor real (não só boletins e e-books caça-leads).

Um bom benchmark é a Salesforce, que combina presença institucional forte, conteúdo educativo e uma comunidade global altamente engajada. Ou a HubSpot, que transformou o inbound marketing em ecossistema — e nunca sai da lista de quem busca CRM.

A mensagem que fica

Se 90% dos compradores B2B já sabem de quem vão comprar, talvez a pergunta não seja como vender mais — mas como ser escolhido antes mesmo da venda começar.

E para isso, você precisa fazer o trabalho silencioso, consistente e profundo de construir marca, confiança e autoridade. A compra é racional, mas a escolha é emocional.

E no fim do dia, no B2B como no amor, ninguém escolhe quem não conhece.


Referências

  • Bain & Company. (2020). The power of brand to cut acquisition costs.
  • Binet, L., & Field, P. (2013). The Long and the Short of It: Balancing Short and Long-Term Marketing Strategies. Institute of Practitioners in Advertising.
  • Harvard Business Review. (2021). Branding in the digital age: You’re spending your money in all the wrong places.
  • McKinsey & Company. (2021). The growth triple play: Creativity, analytics, and purpose.
  • Nielsen. (2018). Global Trust in Advertising Study.
  • Ritson, M. (2019). Why Marketers Should Combine Brand and Performance Marketing. Marketing Week.
  • Sharp, B. (2010). How Brands Grow: What Marketers Don’t Know. Oxford University Press.